Educação e Emprego preocupam África - Por: Aidê Carvalho, em Adis Abeba
Publicado pelo Santiago Magazine
"Em Cabo Verde ainda persistem constragimentos de diversa ordem, desde a precariedade de instalações, recursos pedagógicos à insuficiente qualificação do pessoal docente afecto ao pré-escolar. Os professores não estão preparados para lidarem com crianças e jovens com necessidades especiais"
No Mali mais de 500 escolas não abriram portas este ano e mais de 1000 crianças não vão à escola desde 2012. Em Moçambique, estima-se que cerca de 1.2 milhões de crianças (23%) em idade de frequentar o ensino primário e secundário, estão fora da escola. Em Burkina Faso, além de altas taxas de abandono, cerca de 74% das crianças na região do Sahel nunca foram para a escola. Na Zâmbia ainda há mais de 800 mil crianças fora do estabelecimento do ensino e outras evidências mostram que esse número está a crescer devido ao abandono escolar - longa distância para a escola, gravidez em adolescentes, casamentos precoce e vulnerabilidades. Na Tanzânia há mais de 3 milhões de crianças fora da escola.
Este cenário negro é apenas alguns resultados de estudos divulgados esta semana, em Addis Abeba na Etiópia, durante a Conferência Regional sobre Educação. Preocupados com a situação, representantes da ANCEFA - Campanha da Rede Africana de Educação para Todos (presidente e membros do Conselho de Administração, Directores e Coordenadores das Redes Nacionais) de todo continente africano estão reunidos nesse país, para juntos encontrarem uma melhor estratégia para uma educação inclusiva e de qualidade em África.
Durante o evento que coloca tônica na mobilização de financiamento para o sector da educação, dezenas de países presentes apresentaram as suas acções, lacunas e os desafios. Uma oportunidade para os actores da sociedade civil fazerem o ponto de situação sobre as políticas educativas no continente e re-estimular o apelo dos sucessivos governos, doadores e dos cidadãos para que assumam as respectivas responsabilidades, afim de assegurar uma educação de qualidade para todos.
As questões do acesso, da inclusão e qualidade foram muito debatidas, visando um novo plano estratégico de políticas da ANCEFA. O presidente desta organização Dembele Samuel pediu o engajamento de todos em especial dos parceiros para financiar a educação.
Cabo Verde é considerado pelas Nações Unidas um caso de sucesso na África Subsaariana. No domínio da educação, o país atingiu os objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). Com uma população de meio milhão de habitantes, mais de um terço encontra-se actualmente a frequentar o sistema de ensino. Um dado que revela a importância atribuída à educação e à formação no país. Mas, a par dos avanços registados, neste arquipélago ainda persistem constragimentos de diversa ordem, desde a precariedade de instalações, recursos pedagógicos e insuficiente qualificação do pessoal docente afecto ao pré-escolar. Em todos os níveis do ensino os professores ainda não estão preparados para lidarem com crianças e jovens com necessidades educativas especiais, apesar de algumas formações realizadas pelo ministério da Educação. Muitas crianças com deficiência não têm acesso à educação e as escolas carecem de rampas de acesso, materiais e equipamento adaptados para uma melhor inclusão dos alunos com necessidades especiais.
A Rede Nacional da Campanha de Educação para Todos em Cabo Verde tem feito várias actividades para sensibilizar o governo, o poder autárquico e a sociedade civil para a promoção do ensino inclusivo e de qualidade. Algumas dessas ações foram apresentadas na conferencia regional de Educação, em Addis Abeba, pelo Coordenador da Rede, Abrãao Borges. A jornalista Aidê Carvalho que integra o Conselho de Administração da ANCEFA e que tem trabalhado muito na área social e da inclusão também participa deste encontro na Etiópia. Cabo Verde está ainda representado pela Teresa Mascarenhas que é presidente da Rede Nacional de Educação para Todos. O Forum regional anual de políticas educativas e a conferência sobre financiamento da educação foram promovidas pela Rede Africana da Campanha de Educação para Todos (ANCEFA) em parceria com a OXFAM Gana e Campanha Global pela Educação. Contou ainda com a presença dos representantes da UNESCO, Campanha Mundial de Educação para Todos, União Europeia, além de vários outros parceiros.
África fala de emprego
Emprego: além de estar claramente ligo à educação, este é outro sector que preocupa o continente africano. Nese sentido, a Comissão da União Africana, NEPAD e África Empresarial realizaram em Addis Abeba, Etiópia, de 30 a 01 de Novembro, uma conferência intitulada África fala Empregos (Africa Talks Jobs) - Equipando os jovens com educação adaptativa e habilidades para o emprego. Esta iniciativa fornece áreas de investimento tangíveis sob quatro pilares temáticos: Emprego e empreendedorismo; Educação e desenvolvimento de habilidades; Saúde e bem-estar; Direitos, Governança e Empoderamento da Juventude. Além dos representantes da ANCEFA e da Rede Nacional de Educação para Todos de diversos países, o encontro que decorreu na Sede da União Africana (AU) contou com centenas de participantes de todo continente africano e conferencistas de renome internacional.
Partilhar as boas práticas no desenvolvimento de habilidades orientadas para o emprego - Lançar Plataformas de intercâmbio e encorajar a aprendizagem mútua entre os decisores políticos e as partes interessadas constam entre os objetivos da conferência "Africa Talks Jobs".
Outro propósito deste encontro é encontrar subsídios para a agenda da Juventude África - União Europeia e a Cimeira de Chefes de Estado da UA-UE em Janeiro de 2018". Por isso, não poderiam faltar os 36 jovens da África e da Europa, escolhidos entre milhares que se candidataram para a iniciativa "Youth Plug-In" e que culminou com a participação na 4ª Cimeira Juvenil África-Europa, em Abidjan.
Entre eles está o cabo-verdiano Adilson Cabral que juntamente com outros jovens líderes de África e Europa vão passar as próximas 3 semanas a desenvolver recomendações políticas sobre Empreendedorismo, emprego juvenil e criação de emprego e contribuir de alguma forma para desenvolvimento de negócios nos dois continentes. O trabalho final vai ser apresentado aos Chefes de Estado na 5ª Cimeira UE-África em Abidjan. Lembrar que na 26ª sessão ordinária da Assembleia de Chefes de Estado e de Governo realizado em janeiro de 2016 foi declarado 2017 como o ano de "aproveitar o dividendo demográfico através do investimento na juventude". É que a Juventude representa mais de 60 por cento da população africana. Daí a necessidade da aposta nesta camada a bem do desenvolvimento do continente. 01 de Novembro que se comemora Dia da Juventude Africana não passou despercebido em Addis Abeba, numa altura em que os ventos de mudança a todos os níveis em África requerem, da sua juventude, por sinal a maioria da sua população, uma maior tomada de consciência do papel a desempenhar.